Poderoso Professor Doutor Leônidas Posêidon

Publié le par Fórum da Ocupação

O Poderoso Professor Doutor Leônidas Posêidon

 

            O Prof. Dr. Leônidas Posêidon estava sentado à sua escrivaninha e fazia contas. A administração de todas as pesquisas do projeto temático águas pago por agência financiadoras, além das disciplinas de pós, palestras, consultorias, da Fundação Hydros, dos encargos burocráticos e administrativos da Universidade, além de entrevistas lhe dava um trabalho interminável. Poderia ter quantos auxiliares e bolsistas quisesse, possuía muitos, aliás; mas, uma vez que levava muito a sério seu ofício, revia mais uma vez tudo e sendo assim os auxiliares o ajudavam a preencher infindáveis relatórios CAPES e CNPq e os bolsistas fugiam de sua alçada com seus interesses diminutos. Não se pode dizer que o trabalho o alegrasse; na verdade ele o realizava só porque lhe fora imposto; já havia solicitado muitas vezes tarefas mais prazerosas, conforme se expressava; mas, sempre que lhe faziam propostas diferentes, era manifesto que nada o agradava tanto quanto o cargo que até então ocupara. Era muito difícil, além disso, encontrar outra coisa para ele. Com efeito, era-lhe impossível atribuir-lhe algo como um determinado tema ou subprojeto; sem mencionar que, neste caso, o trabalho de calcular não seria apenas maior, mas também mesquinho, o grande Prof. Dr. Leônidas Posêidon só podia receber um posto em que fosse dominante, no mínimo, coordenador. E, se lhe ofereciam um ofício fora do tema água, sentia-se mal com a idéia: seu alento divino se descontrolava, o impecável avental  engomava.

            De resto, não levavam realmente a sério as queixas que fazia; quando um poderoso importuna, é preciso dar a impressão de tentar ceder mesmo nas questões mais sem perspectiva: ninguém pensava em remover de fato o Prof. Dr. Posêidon do seu posto; desde o início mais remoto tinha sido destinado a ser o principal especialista em todos os mares e assim devia permanecer.

O que mais o irritava - e essa era a causa principal de sua insatisfação com o cargo - era escutar as imagens que faziam dele como, por exemplo, ele navegando a pesquisar diligentemente de modo concentrado e desalinhado em meio às ondas. Enquanto isso o Prof. Dr. Posêidon estava sentado em sua escrivaninha ao lado do Rio Pinheiros, muito distante dos mares do mundo e fazendo contas ininterruptamente; de vez em quando uma descida à Reitoria para se resolver problemas com o sistema Júpiter e pautas do C.U.(sic) eram as únicas quebras de monotonia – passeio, por sinal, de que ele na maioria das vezes voltava furioso. Assim é que mal tinha visto os mares: só fugazmente, durante a célere pesquisa no laboratório instalado no Litoral que garantiu sua ascensão ao topo da carreira (como Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 1A), sem nunca o ter efetivamente atravessado. Costumava dizer que ia esperar o fim da Universidade quando fosse efetivamente privatizada de vez, aí então se produziria com certeza um segundo de tranqüilidade, no qual ele, bem próximo ao fim, depois de revisar o último relatório de produtividade para as agências e para a CERT, poderia ainda dar, rapidamente, um pequeno giro por tudo.

D.A.

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Em minha opinião, Posêidon paga de peixe fora d´água - mas, na real, prefere o cotidiano insólito das "emoções em alto mar" da Universidade...cada vez menos pública
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